quinta-feira, 19 de julho de 2012

O PRISIONEIRO



Pela grade da janela da cela, vejo o céu,

Tão azul, tão límpido, tão belo!

E sobre o telhado avermelhado do presídio,

Uma palmeira agitada pelo vento

Sacode suas longas palmas.

Visão única do mundo lá de fora.



Empoleirado na cornija do telhado,

Um pássaro previdente,

Prenunciando chuva e frio,

Impermeabiliza suas penas,

Termina seu rito de acasalamento

E alça vôo livre para o infinito.



O sol, emoldurado pela grade de ferro

Faz tudo parecer quadrado.

E a sombra do telhado projetado

Nas paredes da cela fria

Marca os últimos momentos do dia.



Picado pela mosca do ideal e da razão

E por querer libertar o povo da opressão;

Condenado pelos pecados de usar a pena,

Pintar o rosto e protestar na arena;

Fizeram-me prisioneiro de meus sonhos.







Besaliel F. Botelho



Em memória do poeta Paul Verlaine

Inverno de 2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

ESPERANÇA



Esperança, pássaro cantante

Empoleirado na alma;

Repetindo o mesmo acalanto.

Até o último instante.



Esperança, suave brisa de verão;

Fôlego de vida...

Que vibra e faz vibrar

As cordas do coração.



Esperança, siga adiante!

Não desanime!

Não desista, terra à vista!

Nuvens no horizonte!



Esperança: o bem vai vencer o mal

O sofrer, o pranto e a dor.

Não mais existirá. E em seu lugar:

O gozo, a alegria, a paz e o amor.







segunda-feira, 16 de julho de 2012

ENTRE O VIVER E O SONHAR

 
Vivo entre o viver e o sonhar

Entre o ser e o devaneio;

Aquilo que parece ser sonho

É o real que mais anseio.

 
Sonho transpondo margens

Em cada curva do caminho;

E nessas loucas viagens

Corre sempre sinuoso rio.

 
Na casa que hoje habito

Tudo que penso e inda sou...

É castelo de areia... medito;

É um sonho que já passou.

 
Quem pensa ser real o sonho,

E vive em roseos devaneios,

Não despertou do sono,

Nem alimentou anseios.




Versos escritos numa tarde fria de inverno,

Campinas, julho de 2012





quinta-feira, 12 de julho de 2012

DIVINAL COSMOGONIA

Fim de tarde... o crepúsculo começa.

Paira no ar prenuncio de melancolia.

Nas arvores, o sussurrar da ventania,

No céu plúmbeo, dos enamorados desprezada,

A lua, desmitificada, de tristeza se embaça.

Quando enfim anoitece...

Tentativas de estrelas aparecem,

Pontilhando a imensidão do céu;

É a hora do recolhimento e da prece.

As horas se alongam no inverno

Cada minuto parece ser eterno...

Teme-se que o astro rei não mais retorne

E em seu lugar, soberana, reine a noite.

Não mente nem falha a divinal cosmogonia:

Surge no horizonte o primeiro raio do sol,

Anunciando o raiar de um novo dia:

Um novo começo, mais um arrebol.